quarta-feira, 8 de julho de 2009

Governador da Bahia ofende classe artística


Governador do Estado da Bahia, Sr. Jaques Wagner, declara nos principais jornais locais que os protestos ocorridos contra a atual política cultural do Secretário de Cultura Marcio Meirelles, durante a comemoração do 2 de Julho – data magna da Bahia – partem das ‘viúvas do passado, acostumadas aos privilégios do governo anterior’.

CARTA ABERTA DOS ARTISTAS BAIANOS


Hoje, 03 de Julho de 2009, o Exmo. Governador do Estado da Bahia, Sr. Jaques Wagner, declarou nos principais jornais locais que os protestos ocorridos contra a atual política cultural e o Secretário de Cultura Marcio Meirelles, durante a comemoração do 2 de Julho – data magna da Bahia – partem das ‘viúvas do passado, acostumadas aos privilégios do governo anterior’. É assustador que o então Governador do Estado assim pense. O Governador, ao declarar este pensamento, revela uma visão confusa de cultura – porque não entende o papel da arte e de seus profissionais –e minimiza a insatisfação dos artistas baianos com a atual gestão da Secretaria de Cultura. As pessoas que compareceram ao protesto são artistas – e não só de teatro– que ao longo de suas vidas batalharam para o reconhecimento e profissionalismos de suas atividades; são artistas conhecidos e reconhecidos pela comunidade, alguns com nomes bastante relevantes. Assusta-nos que o então Governador, ao longo de quase três anos de governo, não reconheça que existe, sim, uma grande insatisfação na área cultural e que o nome do atual secretário, sistematicamente, pontuou as manchetes dos jornais, envolvido sempre em uma polêmica relativa ao desmonte da produção artística. Chamar de ‘viúvas’ os artistas baianos é, no mínimo, um desrespeito com estes profissionais, pois nenhum governo deu aos artistas, privilégios. Todas as conquistas na área cultural foram iniciativas dos artistas, individualmente ou coletivamente. Se o então Governador fosse um homem com esclarecimento amplo na área da cultura, entenderia isto muito bem. A Classe Artística não trabalha para ideologia política partidária e sim para a liberdade de expressão do ser humano, pois só através desta é que podemos transformar o indivíduo. Talvez more aí o poder da arte e a justificativa do descaso com que vem sendo tratada a nossa cultura. Nos respeite, Governador e reflita quando se dirigir a um grupo de trabalhadores que, devido ao subjetivismo de suas profissões não pode sequer recorrer à greve como instrumento de protesto. Mas não se esqueça que somos formadores de opinião e temos o apreço das platéias. O atual Secretário justifica o fracasso de sua gestão acusando a escritora Aninha Franco de orquestrar os protestos do 2 de Julho. O protesto ocorreu por iniciativa dos artistas e a citada escritora, em momento algum, colaborou para isto. É importante ressaltar que toda a mobilização ocorrida foi efetuada através de uma comunicação estabelecida unicamente através de e-mails, sem a necessidade sequer de uma reunião. Tudo isso, Sr. Secretário, para o Sr. perceber a insatisfação que grande parte da classe artística soteropolitana – que compareceu em massa – tem para com a política cultural dos atuais governos: estadual e municipal. A classe artística não precisa ser orquestrada, pois não é massa de manobra. É uma classe pensante e crítica e, talvez por isto, é que esteja sendo tão desrespeitada. ‘Viúvas do passado’, como sugere o Governador, são todos aqueles que conseguem sobreviver aos governos, fazendo o seu ofício. São artistas como Caribé, João Ubaldo, Edgard Navarro, Lázaro Ramos, Margareth Menezes, Luis Caldas, Armandinho e Instituições como o Balé do TCA, Balé Folclórico, Museu Carlos Costa Pinto, Instituto Histórico e Geográfico,Theatro XVIII, Academia Baiana de Letras, Teatro Vila Velha e todos osque conseguem elevar o nome do nosso Estado, tornando-o um dos principais pólos de produção artística e uma das expressões culturais mais representativas do Brasil. Exigimos mais respeito, pois os privilegiados passam também pelo atual Secretário de Cultura que sobreviveu, e muito bem, dentro dos governos passados, conquistando o seu respaldo artístico em um sistema que ele hoje, oportunamente, combate. A discussão cultural é muito mais complexa do que se imagina. Sobreviver de arte, em si só já é uma arte e a maioria dos nossos políticos parece ignorar esta verdade. Acusar de privilegiados profissionais que em sua grande maioria não tem nem uma casa própria, é ultrajante. Qualo moral que um político tem hoje de se referir a uma classe de trabalhadores que emociona, diverte, informa e eleva a auto estima da população? Qual o moral que os grupos políticos podem ostentar em um país onde o Congresso Nacional afunda em meio à corrupção? Onde o Presidente da República, omissamente, a tudo assiste? Claro! Falar do Presidente ou ter qualquer idéia contrária a atual corrente de pensamento, virou coisa dos ‘privilegiados’ e das ‘viúvas do passado’. A lógica empregada pelo Governador é tosca, assim como é distorcido o pensamento de que ‘quem não está a meu favor está contra mim’. Chegamos até o atual governo fazendo oposição aos grupos que estiveram no poder, uma oposição em nome da liberdade, pois somos artistas e precisamos dela e é em nome dela que agora estamos também criticando e nos posicionando contra a atual gestão ou falta de gestão cultural. Não temos compromisso com nenhum partido. A nossa bandeira não perpassa pelas ideologias partidárias e sim pela liberdade na garantia do Estado verdadeiramente democrático e de direito. Por isso, nos respeite, Sr. Governador.
Salvador, 03/07/2009 Sindicato dos Artistas e Técnicos do Estado da Bahia Presidente: Fernando José Marinho Secretário Geral: José Carlos da Silva

sexta-feira, 3 de julho de 2009

DJ KOYRANA, VJ SAL DIAS, Mundo Livre S/A e Dom Capaz no GOMA


Mundo Livre S/A numa performance inesquecível. Esculturas de lama são eternas.

Fabrício percussão, DJ Koyrana discotecagem e efeitos, VJ Sal Dias imagens e ambientação.

VJ Sal Dias em noite de pura experimentação.

Grande percussa Fabrício nos ofertando seu groove

DJ Koyrana delirando na vibe mundo livre no Goma. Quem tem groove tem tudo!

O trio performance... Fabrício homem groover, DJ VJ Koyrana Sistema de Som Ancestral e VJ Sal Dias Projeções e ambientação

Concentração e sensibilidade...


VJ Sal Dias assumindo o groove

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Santiago Alvarez e o século 21

Por : Orlando Sena

O acontecimento mais importante da linguagem audiovisual, neste início doséculo 21, é a evolução artística do documentário. Um fenômeno alimentado por ousadia estética e transgressões, superação de dogmas, superposição e diluição de gêneros acontecendo neste momento de câmbios profundos na atividade, de natureza tecnológica e industrial. Estão circulando na internet, nos DVDs, na televisão, nos cinemas, nos iPhones uma quantidade enorme de documentários, muitos deles de concepção clássica e muitos deles de concepção inovadora, revolucionária, extrapolando os limites de registro e edição que definiam o território documental no século passado. São obras audiovisuais que mesclam o registro da realidade com cenas ficcionais, animação, videoarte, clipe musical, chroma key, efeitos especiais. Desdobram-se por vários tipos, vários comportamentos de realização: documentário de arquivo, documentário de encenação (nalinha de Flaherty), documentário espontâneo, docudrama, docfic e outros, além dos produtos híbridos, misturando distintos comportamentos. Ainda são classificados como “documentários” mas provavelmente serão rebatizados em algum momento, há teóricos e documentaristas que preferem classificá-los como ensaios, como“cine-ensaios”. Essa explosão da linguagem documental é o corolário, o resultado posto em prática do entendimento alcançado em meados do século passado de que documentário não é a reprodução da realidade, inclusive porque um registro isento da realidade é impossível, mas sim a expressão da verdade de quem faz o documentário. O que importa, o que interessa, é a qualidade da verdade de cada documentarista, a qualidade humanista de seu ponto de vista, de sua apreensão particular e de sua opinião sobrea vida, a sociedade, a humanidade, a civilização, o planeta. Essa nova linguagem começou a ser forjada por artistas maiores do cinema desde os anos 1920, antes do entendimento generalizado de que documentário é visão particular, quando apenas esses precursores pensavam assim —documentaristas como o fracês Jean Vigo (“documentário é um discursoilustrado”), o russo Dziga Vertov (“cinema olho, cinema verdade”), o holandês Joris Ivens (que considerava a poesia como componente essencial do documentário) , os americanos Robert Flaherty (que transformava personagens em atores nos anos 1930) e Orson Welles(contrapondo realidades e imitações, verdades e mentiras em F for Fake, de 1974). Nessa linhagem de artistas maiores, ou seja, de artistas que inventam linguagem, que descobrem novos caminhos, que alimentam a evolução estética e a evolução da comunicação humana, tem lugar de honra ocubano Santiago Alvarez e seu cinema transgressor, radical, panfletário. Foi o último dos grandes mestres documentaristas do século 20, produzindo até o último dia de sua vida, em 1998, ano em que realizou dois documentários e completou sua impressionante filmografia de mais de cem documentários e seiscentos Noticieros. O último dos grandes e também o mais instigante, o que mais impactou os jovens cineastas da segunda metade do século passado e o que deixou mais influências na revolução estética do documentário que está acontecendo neste momente. Santiago inventou o clipe, utilizou cenas ficcionais distorcidas, fez reconstituição de fatos com atores, utilizou dramática e visualmente as palavras, explodiu e implodiu a imagem com um grafismo inédito no cinema e incendiou a reflexão e a percepção teóricas ao inventar e defender o conceito Informaturgia, a dramaturgia da informação, a organização artística de fatos, imagens e opiniões. Ele dizia e demonstrava na prática que não lhe interessava registrar e sim “participar da realidade”. Sobre o ponto de vista individual, a verdadede cada um na tela, era muito claro: "yo informo de acontecimientos a partir de ideas que tengo sobre esos acontecimientos". E certeiro, ao se referir ao futuro: “a impaciência criadora do artista produzirá a arte dessa época”. Essas declarações estão em entrevistas à revista Cine Cubano nos anos 1960 eno livro El Ojo de la Revolución-El Cine Urgente de Santiago Alvarez, de Amir Labaki, 1994. Não está registrado (a não ser que ainda existauma entrevista que deu à Televisión Cubana nos anos 1980), mas muita gente ouviu de sua própria boca como se definia como documentarista, como artista: “soy politikón y erotikón”. Pólis e Eros: a interação com a sociedade, com a civilização, com a história e o progresso fundida ao amor consciente, ao mito de Eros/Psique, carne e espírito, coração e consciência, real e imaginário, dualidade motora da Arte e dos artistas. Pois, o que temos agora na internet e nas outras mídias é uma colheita da semeadura de Santiago, da sua teoria e prática da Informaturgia, do casamento da objetividade com a subjetividade, das propostas de linguagem que estão em Now, LBJ, Hanoi Martes 13, La importancia universal del hueco, La soledad de los dioses. Essa nova onda de documentários criativos (assim também estão sendo chamados) e/ou ensaios audiovisuais é a mais importante arte contemporânea. É a única manifestação artística vestida com os parâmetros do século 21, por superar e digerir a dualidade audiovisual do século 20 (real/imaginário, documentário/ ficção) e por estar na vanguarda da utilização das novas tecnologias da comunicação. É a manifestação que abre o caminho para uma nova etapa do Cinema, para uma arte audiovisual capaz de filosofar e que já está sendo chamada de Oitava Arte. Atrás desse cenário o que vejo é Santiago em seu campo de luzes, sorrindo e semeando.


Catálogo do Festival Internacional de Documentales Santiago Alvarez In Memoriam 10ª edição – Santiago de Cuba, 8 a 13/3/2009