Município de Iguatemi, sul de Mato Grosso do Sul, 23 de agosto de 2011, por volta das oito da noite. Indígenas guarani-kaiowás, acampados às margens de uma estrada vicinal são atacados por homens armados. O relato é de um dos líderes do grupo: “Estavámos rezando, de repente chegaram dois caminhões cheios de homens, chegaram atirando, ordenaram parar queimar barracas e roupas e amarrar todos índios. Saímos correndo, em direção diferente. A 300 metros do local vimos as barracas queimando e muito choro. Faroletes e lanternas estão focando pra lá e cá, as crianças e idosos não conseguiram correr. Os meus olhos enlagrimando (sic) escrevi este fato. Quase não temos mais chance de sobreviver neste Brasil”.
O ataque deixou feridos – principalmente crianças e idosos, que não conseguiram correr – e destruição. O acampamento, em área pública de uma estrada vicinal, foi totalmente queimado, assim como os pertences dos índios e o estoque de comida. O Ministério Público Federal (MPF) em Dourados pediu abertura de inquérito na Polícia Federal em Naviraí para investigar o crime. Foram encontrados dezenas de cartuchos de munição calibre 12 anti-tumulto (balas “de borracha”) e há indício de formação de milícia armada. O MPF trata o caso como genocídio, já que foi cometida violência motivada por questões étnicas contra uma coletividade indígena.
O ataque é mais um capítulo da crônica de violência étnica em Mato Grosso do Sul, estado com a segunda maior população indígena do país. Setenta mil índios de diversas etnias aguardam a demarcação das terras tradicionalmente ocupadas por eles, em cumprimento a um termo de ajustamento de conduta (TAC) assinado pelo MPF e a Fundação Nacional do Índio (Funai) em 2007 e até hoje não cumprido.
A área reivindicada pelo grupo guarani-kaiowá é conhecida como Puelito Kue e já foi estudada pelos antropólogos da Funai. O relatório, cuja publicação é uma das fases da demarcação de terras indígenas, está em fase final de redação. Mesmo depois da violência do ataque, os indígenas retornaram ao mesmo acampamento, pois não têm para onde ir.
Houve dois outros eventos violentos envolvendo a comunidade. Em 14 de setembro de 2003, um grupo tentou retornar à área. Dois dias depois homens armados invadiram o acampamento e expulsaram os indígenas com violência. Em 8 de dezembro de 2009, nova violência contra o grupo. Segundo depoimento prestado ao MPF, os índios foram amarrados, espancados e colocados num caminhão, sendo deixados em local distante do acampamento. O indígena Arcelino Oliveira Teixeira desapareceu sem deixar pistas. O corpo nunca foi encontrado.
Clique aqui para saber mais sobre o assunto e ver outras fotos.
Fonte: Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul
Nota do EcoDebate: O Mato Grosso do Sul continua o principal palco de continuados crimes e agressões contra índios do povo Guarani-Kaiowá.
Os episódios de violência anti-indígenas são frequentes e, mesmo assim, pouquíssimo divulgados pela grande mídia e praticamente desconhecidos da maioria da população.
O histórico do MS fala por si mesmo e precisamos nos esforçar na denúncia da manutenção da herança genocida, bem como cobrar que as apurações destes continuados crimes também identifiquem os mandantes, os contratantes dos pistoleiros de aluguel.
No EcoDebate, em razão de nosso compromisso com os movimentos sociais e populares, mantemos pauta permanente sobre os conflitos no campo e as questões indígenas, quilombolas e de reforma agrária. Ao nosso modo e na medida de nossas possibilidades tentamos ‘cobrir’ a lacuna de informações deixada pela grande mídia.
Relacionamos, abaixo, algumas matérias que demonstram o quanto os conflitos no Mato Grosso do Sul deixaram de ser ‘meros conflitos isolados’ para assumir um caráter de intolerância étnica.
Guarani-Kaiowá. Truculência e omissão. Entrevista especial com Iara Tatiana Bonin
Guarani Kaiowá ocupam terra tradicional à espera de demarcação em Mato Grosso do Sul
Os crimes de ódio contra indígenas no MS não param, por Henrique Cortez
Kaiowá Guarani: um genocídio silencioso?
Dossiê EcoDebate: Demarcação de terras indígenas no Mato Grosso do Sul
Situação do povo Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul
Cimi denuncia incêndio de moradias de Guarani Kaiowá em Mato Grosso do Sul
Retomada da esperança com os estudos antropológicos para identificação de terras indígenas no MS. Entrevista com Egon Heck
EcoDebate, 09/09/2011
O ataque deixou feridos – principalmente crianças e idosos, que não conseguiram correr – e destruição. O acampamento, em área pública de uma estrada vicinal, foi totalmente queimado, assim como os pertences dos índios e o estoque de comida. O Ministério Público Federal (MPF) em Dourados pediu abertura de inquérito na Polícia Federal em Naviraí para investigar o crime. Foram encontrados dezenas de cartuchos de munição calibre 12 anti-tumulto (balas “de borracha”) e há indício de formação de milícia armada. O MPF trata o caso como genocídio, já que foi cometida violência motivada por questões étnicas contra uma coletividade indígena.
O ataque é mais um capítulo da crônica de violência étnica em Mato Grosso do Sul, estado com a segunda maior população indígena do país. Setenta mil índios de diversas etnias aguardam a demarcação das terras tradicionalmente ocupadas por eles, em cumprimento a um termo de ajustamento de conduta (TAC) assinado pelo MPF e a Fundação Nacional do Índio (Funai) em 2007 e até hoje não cumprido.
A área reivindicada pelo grupo guarani-kaiowá é conhecida como Puelito Kue e já foi estudada pelos antropólogos da Funai. O relatório, cuja publicação é uma das fases da demarcação de terras indígenas, está em fase final de redação. Mesmo depois da violência do ataque, os indígenas retornaram ao mesmo acampamento, pois não têm para onde ir.
Houve dois outros eventos violentos envolvendo a comunidade. Em 14 de setembro de 2003, um grupo tentou retornar à área. Dois dias depois homens armados invadiram o acampamento e expulsaram os indígenas com violência. Em 8 de dezembro de 2009, nova violência contra o grupo. Segundo depoimento prestado ao MPF, os índios foram amarrados, espancados e colocados num caminhão, sendo deixados em local distante do acampamento. O indígena Arcelino Oliveira Teixeira desapareceu sem deixar pistas. O corpo nunca foi encontrado.
Clique aqui para saber mais sobre o assunto e ver outras fotos.
Fonte: Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul
Nota do EcoDebate: O Mato Grosso do Sul continua o principal palco de continuados crimes e agressões contra índios do povo Guarani-Kaiowá.
Os episódios de violência anti-indígenas são frequentes e, mesmo assim, pouquíssimo divulgados pela grande mídia e praticamente desconhecidos da maioria da população.
O histórico do MS fala por si mesmo e precisamos nos esforçar na denúncia da manutenção da herança genocida, bem como cobrar que as apurações destes continuados crimes também identifiquem os mandantes, os contratantes dos pistoleiros de aluguel.
No EcoDebate, em razão de nosso compromisso com os movimentos sociais e populares, mantemos pauta permanente sobre os conflitos no campo e as questões indígenas, quilombolas e de reforma agrária. Ao nosso modo e na medida de nossas possibilidades tentamos ‘cobrir’ a lacuna de informações deixada pela grande mídia.
Relacionamos, abaixo, algumas matérias que demonstram o quanto os conflitos no Mato Grosso do Sul deixaram de ser ‘meros conflitos isolados’ para assumir um caráter de intolerância étnica.
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EcoDebate, 09/09/2011