domingo, 30 de agosto de 2009

A situação da mulher no Afeganistão é um inferno


O presidente Hamid Karzai, financiado pela comunidade internacional - incluindo a Espanha -, aprova leis que permitem que os maridos xiitas castiguem suas esposas deixando-as sem comida se estas não os satisfizerem sexualmente.

Após oito anos de intervenção internacional, a discriminação das afegãs é semelhante à da época do Taleban

Original: EL PAÍS
Por: Ramón Lobo Enviado especial a Cabul (Afeganistão)

As mulheres afegãs são vítimas de uma mentalidade medieval. Não existem leis nem justiça, só a tradição e a vontade inapelável de homens embrutecidos por 30 anos de guerras, que se amparam no nome de Deus para exercer a violência. Em muitas áreas rurais raspa-se o cabelo das meninas durante a celebração dos casamentos, na esperança de que sua feiúra as salve de uma violação, muitas vezes por parte de um familiar. Oito em cada dez mulheres sofrem violência doméstica e 60% são obrigadas a se casar antes dos 18 anos, segundo dados da ONU e da Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão. O presidente Hamid Karzai, financiado pela comunidade internacional - incluindo a Espanha -, aprova leis que permitem que os maridos xiitas castiguem suas esposas deixando-as sem comida se estas não os satisfizerem sexualmente.
* Mulher afegã segura seu documento de identificação para votar em Herat (Afeganistão)"A burqa não é o problema, se é ela quem decide usá-la", afirma Fatana Ishaq Gailani, prêmio Príncipe de Astúrias da Concórdia em 1998 e presidente de uma ONG que defende seus direitos. "O grande problema das mulheres afegãs é o tratamento desumano que recebem. Ninguém as protege da violência. Nem o governo nem a comunidade internacional fizeram nada em oito anos para mudar a situação. É impossível condenar alguém por violação; os juízes liberam os acusados depois do pagamento de um suborno. A mulher afegã quase não tem acesso à educação, e nas áreas rurais vive em condições de extrema pobreza."Faima tem 23 anos, é de Cabul e teve sorte: conseguiu terminar o ensino secundário, algo vetado a 95% das meninas que iniciam a escola. Aguarda sua vez em uma sala do centro ortopédico que o Comitê Internacional da Cruz Vermelha tem na capital desde 1988. É para seu filho Rahnan, que tem uma mal formação no pé. "Não gosto da burqa. Sinto-me em uma prisão e embaixo faz muito calor. O jihab [lenço] é a peça que minha religião exige e que eu uso na cabeça. Muita gente pensa assim em Cabul, mas sei que nas províncias é diferente. Lá muitas mulheres têm de usar a burqa à força.

"Raio-X do Afeganistão*


Área: 652.230 km² (sem saída para o mar)


População: 33 milhões

Urbanização: 24% da população é urbana


Taxa de fertilidade: 6,5 crianças nascidas por mulher (4º maior do mundo)


Mortalidade infantil: 151 mortes por 1000 nascimentos (3º maior do mundo)


Expectativa de vida ao nascer: 44,5 anos


Grupos étnicos: pashtun (42%), tajik (27%), hazara (9%), usbeque (9%) e outros

Religião: sunitas (80%), xiitas (19%), outros Alfabetização: homens, 43%; mulheres, 12%

Taxa de desemprego: 40% Fonte: CIA World Factbook 2009

Salima é uma delas. Vem da província de Takhan, no norte, e usa a burqa erguida sobre o rosto. No início se nega a conversar. Diz que precisa da autorização de seu marido. Com a ajuda de uma das fisioterapeutas, concorda, cobrindo a boca com o tecido: "Ninguém me obriga a usá-la. Embaixo dela me sinto mais segura. Não gosto que os homens me olhem na rua". Malalai Joya tem 35 anos e é uma das 64 deputadas doParlamento, mas não pode ir ao seu assento, porque foi expulsa apesar de a lei não contemplar essa possibilidade. Está ameaçada de morte e vive na clandestinidade. Em seu caso, a burqa é um seguro de vida. "A maioria de nossos políticos e parlamentares são narcotraficantes e criminosos de guerra que deveriam ser detidos e levados ao Tribunal Internacional de Justiça de Haia", explica em um de seus refúgios. Opiniões como esta, que ela expressou na Loya Jirga, a Grande Assembléia, em 2003, a colocaram na mira de muitas armas."A situação da mulher no Afeganistão é um inferno", prossegue. "Muitas optam pelo suicídio para escapar da violação legalizada na qual setransformaram muitos casamentos. Não podem sair sem autorização de seus maridos. Nem estudar. Eu vivo em um país de misóginos que temem a outra metade. Dizem que somos 25% dos deputados, mas é mentira: as mulheres mal podem falar no Parlamento, são insultadas e atacadas. A mim, por exemplo, tentaram violar. As coisas não mudaram desde que os taleban se foram e o país foi ocupado por tropas estrangeiras." Malalai mostra papéis e fotografias; é uma mulher dedicada a uma causa. "Sei que um dia me matarão. Já tentaram cinco vezes, mas não vou me render", diz. Sdikatem 12 anos. Levanta-se às 6 da manhã e uma hora depois entra no colégio, mas às 10 tem de voltar para casa para ajudar a fazer o almoço. Gostaria de ser pintora. Desenha jardins e casas grandes. Devem ser seus sonhos de uma Cabul envolta em uma neblina de poeira e areia que machuca os olhos. Diz que não gosta da burqa. "Não a vestirei enquanto não me casar. Depois, dependerá do que meu marido decidir."A deputada Fawzeja Kofi se queixa de que os candidatos à presidência não deram atenção aos problemas das mulheres. Também acredita que a burqa não é o problema, mas a representação do problema. Acredita que os jovens e as novas tecnologias romperão o cerco. "Pouco mudou na qualidade de vida das mulheres desde a saída dos taleban. Aqui se mata a mulher por ser mulher. Só em Cabul há 60 mil viúvas que devem carregar o peso da casa e que não têm direitos. A única via é a educação, que 85% de mulheres analfabetas aprendam a ler e a exigirseus direitos. Temos um governo corrupto que a única coisa que fez foi legalizar a tradição. Vivemos em uma cultura da impunidade que nada tem a ver com a xariá [lei islâmica]."

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Festival de Gramado paga pau para Xuxa


Título Original: Rancorosa, Xuxa ofende Gramado: Eles tiveram de me engolir
Por: Celso Sabadin, enviado especial a Gramado

Noite de horror e indignação em Gramado. Alguma mente desprovida de qualquer senso cinematográfico decidiu coroar Xuxa Meneghel como a Rainha do Cinema. É inclusive a manchete do Diário do Festival, que circula aqui no evento: Gramado Reverencia sua Rainha. E, pior: Kikito especial homenageia a rainha do cinema, da música e da televisão. No país de Fernanda Montenegro, de Aneci Rocha, de Laura Cardoso, de Helena Ignez, de Tônia Carreiro, de sei lá... Hebe Camargo, caramba... O Festival de Gramado, pateticamente, tenta vender ao público a mentira que Xuxa é a rainha do cinema. Tudo por um punhado de mídia. Como se vendem barato os organizadores do Festival de Gramado que decidem quais serão os homenageados!Ontem (13/8), a noite de entrega do tal Kikito especial para Maria da Graça Meneghel foi um show de breguice deslavada que os 37 anos de Gramado não mereciam ter visto. Antes de mais nada, desde o dia anterior, montavam-se esquemas de segurança para a chegada da "Rainha". Não pode isso, não pode aquilo, vai ser assim, vai ser assado, ninguém pode falar com ela, ela não vai responder a nenhuma pergunta, não pode chegar perto, bla, bla, bla... Nem Barack Obama, se a Gramado viesse, mereceria tanta distinção.Claro que tudo começou com atraso. Xuxa chegou ao chamado Palácio dos Festivais (cada Rainha tem o Palácio que merece) cercada do gigantesco alvoroço dos fãs. Alvoroço, aliás, que é a finalidade básica dos organizadores do festival ao convidá-la. Flashes, corre-corre, gritinhos, aquela coisa toda que o mundo das celebridades conhece bem. Ao ser chamada para a homenagem, a Rainha elegantemente desfilou pelos corredores do Palácio e, a poucos metros do palco, foi gentilmente abordada por um jovem súdito, aparentando pouco mais de 20 anos, que lhe pediu um beijo. Xuxa, ainda elegantemente, deu um leve beijo no rosto do rapaz e seguiu rumo ao palco, sem problema nenhum. Imediatamente, dois enormes seguranças imobilizaram o jovem, que levou uma chave de braço, foi rapidamente imobilizado e truculentamente retirado do local sob os gritos de protestos de alguns poucos que viram a cena.Gramado precisava disso? De um showzinho particular de truculência e ignorância?Já no palco, Xuxa recebeu seu troféu das mãos da atriz mirim Ana Júlia, foi ovacionada por parte da plateia, e dirigiu-se ao microfone onde desferiu a primeira bobagem: "Eu sou povo", ela disse. Bom, eu não conheço ninguém do povo que ostente seguranças truculentos para dar chaves de braço nas pessoas. Em seguida, num discurso rancoroso e até agressivo, Xuxa afirmou que nunca imaginou receber uma homenagem como aquela. "Nem eu", pensei, calado. E foi além: disse que jamais poderia pensar que o Festival de Gramado fosse capaz de superar os preconceitos e premiar uma pessoa do povo e suburbana como ela. Ou seja, chamou abertamente o Festival de preconceituoso. Como se, em edições anteriores, o evento só tivesse premiado magnatas e intelectuais.Gramado precisava disso? De uma ofensa gratuita vinda de um homenageado?A Rainha terminou sua fala dizendo: "Eu não me arrependo de nada. Eu não tenho vergonha de ser povo, de ser loira e vencedora". Ao que parte da plateia completou: "...E gaúcha!". De onde a loira tirou esta frase? Que nonsense foi este? Se eu não estivesse presente, não teria acreditado.Porém, o pior estava por vir: ao descer do palco e voltar para os corredores do Palácio, Xuxa percebeu a presença do jornalista Luiz Carlos Merten, que por sinal estava sentado praticamente ao meu lado. Deu-lhe um amplo sorriso, abraçou o jornalista e sussurrou ao ouvido dele: "Eles tiveram de me engolir". Fiquei pasmo. Eles quem? Os organizadores de Gramado? Os críticos de cinema? O povo? Teria o espírito de Mário Jorge Lobo Zagallo incorporado provisoriamente na Rainha?E, depois, se ela diz não se arrepender de nada, por que sua filmografia "oficial", publicada pelo Catálogo também oficial do Festival de Gramado, omite seus longas Fuscão Preto, Gaúcho Negro e Amor Estranho Amor? Os dois primeiros seriam bregas demais para a realeza? E o polêmico Amor Estranho Amor, de Walter Hugo Khoury? Algo contra a nudez da rainha? A rainha está nua?!Segundo informações do Jornal de Gramado, além de todas estas barbaridades (para usar um termo bem gaúcho), Xuxa ainda teria cobrado um cachê de R$ 60 mil para aceitar ser homenageada.Sinceramente, Gramado precisava de tudo isso?Num momento de lucidez e equilíbrio, o ator José Victor Cassiel, apresentador do evento ao lado de Renata Boldrin, anunciou o próximo filme concorrente e conclamou a todos: "Vamos voltar ao Cinema". Perfeito! Xuxa, com seus filmes de péssima categoria, conteúdo risível, produção tosca e nenhum objetivo cinematográfico, além do merchandising e da bilheteria, pode representar qualquer coisa. Menos o cinema. Se o Festival de Gramado é um templo do cinema brasileiro, este foi profanado na noite de ontem.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Encontro Popular Pela Vida em Salvador

Organizações de movimentos sociais e comunidades organizadas de varias regiões do país estarão de 14 a 16 de Agosto em Salvador realizando o I ENPOSP – Encontro Popular Pela Vida e por um outro Modelo de Segurança Publica.


O I ENPOSP será aberto com um “Ato político pela vida e por uma outra segurança pública” que a partir das 14hs do dia 14 na Praça da Piedade fará concentração e seguirá em marcha de protesto até o local de abertura do encontro, a faculdade de arquitetura da Ufba, Federação Rua Caetano Moura, 564.

O Estado brasileiro cimentou sob as bases de seu desenvolvimento econômico, político e cultural o uso oficial e extra-oficial de aparelhos de criminalização dos povos que de algum modo representam uma ameaça a sua ordem sócio-racial. O estudo da Históriae a simples consultas à evidencias históricas refletidas no cotidiano das comunidades criminalizadas deste país permite entender que o Estado brasileiro distribuído nos seus três poderes e o seu sistema de justiça criminal é composto por uma normatividade seletiva e, como conseqüência, institutos e instituições seletivas de controle, dominação e extermínio da população negra, indígena e popular. Atualmente o Estado brasileiro tem sob a sua guarda penal uma população de quase meio milhão de pessoas distribuídas em cerca de 1.500 instituições carcerárias no país. Como resultado de um processo sempre crescente de encarceramento, a população encarcerada cresce proporcionalmente em ritmo mais veloz do que a população livre. Em alguns estados brasileiros cerca de 50% destes já poderiam ter o seu livramento condicional se o prazos legais fossem cumpridos. Uma parcela significativa da população carcerária do país cumpre pena em unidades policiais sem ser julgados; e 60% do total de todos as pessoas cumpre pena sem que se tenha transitado nem julgado a condenação criminal. Ao pensar sobre as características da população carcerária verifica-se que 95% dos presos são homens, cerca de 85% das presas são mães, mais de 50% são negros, mais de 90% são originários de famílias que estão abaixo da linha da pobreza, mais de 80% dos crimes punidos com pena de prisão são contra o patrimônio, mais de 90% tem menos do que os oito anos de ensino constitucionalmente garantidos, menos de 3% cumpre penas alternativas, mais de 80% não possui advogados particulares para asua defesa, mais de 90% são condenados a cumprir a pena de prisão em regime fechado, mais de 70% dos que saem da prisão retornam para ela e menos de 10% dos que cumprem pena em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) ou outras medidas mais rígidas de segurança se adéquam ao perfil estabelecido para tanto (MIR, 2004).
De outro lado, esse Estado também tem o seu lado genocida. Conforme relatório preliminar de Philip Alston, relator da ONU para execuções sumárias e extra-judiciais apresentado àquela organização em maio do presente ano, no Brasil os policiais matam em serviço e fora de serviço. Porém, nenhuma investigação é feita a respeito, já que tudo se justifica a partir dos autos de resistência, isto é, suposta morte em confronto. Todos os casos são classificados como situação de “Resistência Seguida de Morte” e a investigação se concentra no histórico de vida do morto. Neste país, as polícias cristalizaram em sua atuação uma cultura que orienta e prepara seus agentes para matar aqueles que supostamente representam uma ameaça a ordem sócio-racial. Diante da necessidade de legitimar o PRONASCI – Plano Nacional de Segurança com Cidadania – é que forças de governo, contando com o apoio de alguns segmentos sociais, estão empreendendo a I CONSEG – Primeira Conferência Nacionalde Segurança Pública - um processo de formulação de política criminal travestida de “segurança pública” que nega a participação autônoma e paritária dos movimentos sociais e visa formular políticas criminais e de “prevenção ao crime” sem o necessário debate com a sociedade. Em contraponto à CONSEG, organizações de movimentos sociais e comunidades organizadas de varias regiões do país estarão de 14 a 16 em Salvador realizando I ENPOSP – Encontro Popular Pela Vida epor um outro Modelo de Segurança Publica. O objetivo deste encontro é articular nacionalmente organizações de movimentos sociais que discutem e atuam no campo de segurança pública e Direitos Humanos no sentido de pensar uma estratégia unificada de enfrentamento as múltiplas formas de violência bem como pensar um modelo de segurança pública que contemple as comunidades e/ou segmentos que representam. O I ENPOSP discutirá temas como segurança pública, violência policial e execuções sumárias; violência para-militar e grupos de extermínio; violência penal, política carcerária nacional e defesa de direitos de presas e presos e seus familiares; saúde e segurança; representação criminal nas mídias e nas artes; sistema de Justiça Criminal e os limites da política nacional de segurança – SUSP (Sistema Único de Segurança Publica), PRONASCI e o processo de construção da CONSEG. O I ENPOSP será aberto com um “Ato político pela vida e por uma outra segurança pública” que a partir das 14hs na Praça da Piedade fará concentração e seguirá em marcha de protesto até o local de abertura do encontro. Realizam o encontro organizações como Associação de Familiares e Amigos de Presos e Presas (ASFAP/BA), Movimento Negro Unificado (MNU), CMA Hip Hop, Círculo Palmarino, Fórum de Juventude Negra da Bahia, Campanha Reaja Ou Será Morto, Resistência Comunitária, Instituto Steve Biko, Quilombo do Orubu, MSTB, CEAS, Assembléia Popular, Pastoral da Juventude, NENN UEFS na Bahia; Comitê contra a Criminalização da Criança e do Adolescente, Fórum Social por uma Sociedade Sem Manicômios, RLS, Brasil de Fato, Observatório das Violências Policiais-SP, Centro de Direitos Humanos de Sapopemba, Coletivo Contra Tortura, DCE/USP, Francilene Gomes Aguiar, Kilombagem, Associação de Juízes pela Democracia, IBCCRIM, Comunidade Cidadã, Pastorais da Juventude do Brasil, CNBB de São Paulo; Centro de Defesa de Direitos Humanos de Petrópolis, Conselho Regional de Psicologia, Defensores de Direitos Humanos, Movimento Direito Para Quem (?), Grupo Tortura Nunca Mais - Rj, Instituto Carioca de Criminologia, Assessoria Popular Mariana Crioula, Justiça Global, Movimento Nacional de Luta Pela Moradia, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Projeto Legal, Rede De Comunidades e Movimentos Contra a Violência, CORED, CAEV-UFF, Nós Não Vamos Pagar Nada/Uff, Dce Uerj, Lutarmada Hip-Hop, Fórum de Juventude Negra, Central de Movimentos Populares do Rio de Janeiro; Movimento Nacional De Direitos Humanos –MNDH/Es; Fórum Estadual de Juventude Negra – Fejunes; Fórum Estadual LGBT; Círculo Palmarino; Comissão de Direitos Humanos da Oab/Es; Pastorais Sociais da Arquidiocese de Vitória; Associação Capixaba de Redução de Danos – Acard e Associação de Mães e Familiares de Vítimas da Violência – Amafavv/Es do Espirito Santo além de varias representações independentes de familiares e vitimas de execuções sumarias, violência policial e de prisão de todoterritório nacional.

Haitianos exigem retirada das tropas brasileiras


Brasília (DF) – A Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados recebeu, nesta quinta-feira (6), a visita de dois dirigentes sindicais do Haiti. Raphael Dukens, da Confederação dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Setor Público (CTSP), e Louis Fignolé Saint-Cyr, da Central Autônoma dos Trabalhadores do Haiti (CATH), acompanhados por Markus Sokol, membro do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), foram recebidos pelos deputados Luiz Couto (PT-PB), presidente da CDHM, Pedro Wilson (PT-GO), vice-presidente da Comissão, e Fernando Ferro (PT-PE). Na reunião, que durou cerca de duas horas, os dirigentes sindicais solicitaram a participação de uma comitiva de parlamentares brasileiros na Comissão de Investigação Internacional a ser realizada na capital Porto-Príncipe entre 16 e 20 de setembro. O evento está sendo preparado pela sociedade civil haitiana e conta com o apoio de inúmeras personalidades internacionais, como o escritor uruguaio Eduardo Galeano. Além do convite à participação brasileira na atividade, os haitianos reivindicaram aos deputados o reforço do apelo junto ao governo brasileiro para a retirada gradual das tropas brasileiras da Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (Minustah, no francês) e o apoio para ações de desenvolvimento econômico e social do país. “Seria muito mais importante que o Brasil ajudasse o nosso país a construir escolas e hospitais do que atuar com tropas militares”, afirmou Saint-Cyr. A alegada situação de insegurança pública generalizada, que justificaria a manutenção do que muitos consideram uma ocupação militar, não condiz com a realidade, segundo os sindicalistas haitianos. “A violência aumenta apenas a cada vez que se aproxima o período de renovação de permanência das tropas, no mês de outubro, mas a normalidade vigora nos demais períodos. Se houvesse insegurança, seria praticamente impossíve circular num país com oitenta por cento da população desempregada e vivendo na miséria. E os índices de violência, como o número de assassinatos, são até menores do que em algumas regiões do Brasil e dos países vizinhos.”, declarou Dukens, acrescentando que o general brasileiro Santos Cruz já declarou que o problema haitiano não é de segurança, mas de desenvolvimento social. Dukens e Saint-Cyr também criticaram duramente os Estados Unidos e a França e lamentaram que o Brasil esteja chefiando a Minustah. “Os EUA e a França nunca perdoram o Haiti por ter sido a primeira república negra independente das Américas e até hoje querem que paguemos o preço por esta ousadia. Para nós, é constrangedor que o Brasil esteja no comando das tropas, já que existe uma amizade histórica entre os nossos países”, disse o representante da CTSP. Os deputados Couto, Wilson e Ferro se comprometeram a apresentar requerimentos à CDHM para a realização de audiência pública sobre a situação do Haiti – particularmente acerca da atuação do Brasil na Minustah – e sugerindo à Câmara a participação de parlamentares brasileiros na Comissão Internacional de Investigação. Os dirigentes haitianos estão percorrendo vários países para relatar a situação do seu país e angariar apoios políticos para o evento. No Brasil, eles também participam de atividades do 10º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores, que ocorre de 3 a 7 de agosto, em São Paulo(SP). Mais informações: Rogério Tomaz Jr.Assessor de Comunicação Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados Telefone: (61)3216.6570 / 8105.8747 – e-mail: cdh@camara.gov.br Site: http://www.camara.gov.br/cdh

domingo, 2 de agosto de 2009

SALVADOR TRISTE KAYS DESSEMELHANTE




Original: Salvemos Salvador, enquanto é tempo
Por: Paulo Ormindo é arquiteto, professor da UFBA, doutor pela universidade de Roma, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil/Bahia.

O 460º aniversário de Salvador passou quase despercebido. Realmente não há muito a comemorar. Em 60 anos de “laissez-faire”, a cidade acumulou índices assustadores de compactação demográfica e veicular, concentração de pobreza, insegurança e destruição do meio ambiente, que apontam para seu colapso em curto prazo. A cidade possui hoje 4.172 habitantes por km², densidade superior à de Bombaim, segunda colocada. Para piorar, a urbese transformou, por falta de política metropolitana, em dormitório e provedor das necessidades de 3,76 milhões de moradores da Grande Salvador. Camaçari, Lauro de Freitas, Simões Filho e Candeias juntas faturam receita igual à de Salvador, transferindo para esta o passivo de serviços e infraestrutura. Seu déficit habitacional é de 100mil habitações, das quais 80% são de famílias fora do mercado imobiliário. Para satisfazer aos 10% dos candidatos com renda superior a cinco salários mínimos, o novo PDDU consentiu que o setor imobiliário devorasse as entranhas verdes da cidade, a orla e os bairros consolidados. Cercade 35 mil novos automóveis e o dobro de motos são licenciados a cada ano. O metrô de Salvador, cuja construção dura 6 anos, é dos mais caros do mundo. Terá 6 km , 6 trens e custará R$ 1,16 bilhão, se inaugurado em 2010. No Recife, o metrô foi construído em dois anos, tem 34,7 km , 25 trens, transporta 180 mil por dia e custou R$ 750 milhões, segundo H. Carballal (A TARDE, 23/3/09). Isto para não falar no impacto ambiental e déficit operacional. As duas saídas rodoviárias da cidade, a Paralela e a BR-324, estão no limite e ainda se fala em construir uma ponte para Itaparica para trazer os caminhões da BR-101 para o nó do Iguatemi, em vez de construir um arco rodoviário. Isto quando Manhattan e cidades europeias cobram pedágios e proíbem aconstrução de novas garagens para evitar a entrada de mais carros. Em Salvador, alguns apartamentos centrais têm até seis vagas. Não há planejamento nem qualificação dos projetos públicos, que são oferecidos pelas empreiteiras interessadas, vide a ponte de Itaparica e o parque da Vila Brandão. A Sedham funciona como uma Defesa Civil, mais que um órgão de planejamento. As licitações são feitas em função do menor preço, ou seja, do pior projeto e menor tempo. O desperdício é grande, viadutos são construídos e não servem para nada, as ruas são refeitas a cada inverno. O Pelourinho é recuperado todo ano. Os conjuntos habitacionais, sem serviços, são novas favelas, estão se desfazendo. E vai-se implodir o parque olímpico da Fonte Nova, cujo laudo da Politécnica diz ser recuperável, para construir uma nova arena menor e um shopping, para dois dias de festa. O que acontecerá com a Copa, se chover, com a cidade alagada e parada como se viu há pouco? As questões ambientais têm o mérito de nivelar todos. Os condomínios fechados da Paralela foram invadidos por barbeiros, dengue, sapos, lagartos e cobras. O senhor prefeito teve de mudar de casa e gabinete, mas prefere trocar postes cinzas por azuis do que rever um PDDU aprovado com 180 emendas de última hora. A classe média já não suporta os engarrafamentos e se tranca em torres e condomínios mistos de vida monástica, com celas, refeitório, oficinas, botica e orações televisivas no mesmo lugar. Considerada patrimônio da humanidade, Salvador mergulha hoje na mediocridade imobiliária.
Fernando Peixoto lamentou a “paulistização” da cidade. Arilda Cardoso denuncia a perda de patrimônio histórico e verde. Neilton Dórea constata: “Hoje, há uma arquitetura dependente... A maioria (dos arquitetos) é desenhador de uma vontade empresarial” (Muito, de 29/3).