domingo, 30 de janeiro de 2011

CARTA ABERTA DOS MUSEÓLOGOS AO SECRETÁRIO DE CULTURA DO ESTADO DA BAHIA


CARTA ABERTA AO SECRETÁRIO DE ESTADO DA CULTURA DA BAHIA

Salvador, 20 de Janeiro de 2011

Excelentíssimo Senhor Secretário Prof. Dr. Albino Canelas Rubim

C/C: Casa Civil, Governadoria e Ascom do Governo Estadual

No ensejo das boas vindas à Vossa gestão e de novas perspectivas para a cultura estadual, nós, profissionais, professores, pesquisadores e estudantes do campo da museologia e dos museus, explicitamos nesta carta, considerações e expectativas quanto à formulação e/ou reformulação das políticas públicas relativas ao campo dos museus, do patrimônio cultural e da memória social.

Em maio de 2003, o Governo Federal convocou os profissionais do campo museal para discutir a criação de uma política de estado voltada para as necessidades, desafios e prioridades dos museus e da Museologia em todo o território nacional, articulada com o Plano Nacional de Cultura (PNC).

O debate amplo e participativo realizado no Museu Histórico Nacional foi um marco para a construção da Política Nacional de Museus (PNM), que completou oito anos em 2010 e tem como um dos seus principais resultados a criação do Estatuto de Museus e do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).

São princípios norteadores da PNM:

- Estabelecimento e consolidação de políticas públicas para os campos do patrimônio cultural, da memória social e dos museus, visando à democratização das instituições e do acesso aos bens culturais;

- Valorização do patrimônio cultural sob a guarda dos museus, compreendendo-os como unidades de valor estratégico nos diferentes processos identitários, sejam eles de caráter nacional, regional ou local;

- Desenvolvimento de práticas e políticas educacionais orientadas para o respeito à diferença e à diversidade cultural do povo brasileiro;

- Reconhecimento e garantia dos direitos das comunidades organizadas de participar, com técnicos e gestores culturais, dos processos de registro e proteção legal e dos procedimentos técnicos e políticos de definição do patrimônio a ser musealizado;

- Estímulo e apoio à participação de museus comunitários, ecomuseus, museus locais, museus escolares e outros na Política Nacional de Museus e nas ações de preservação e gerenciamento do patrimônio cultural;

- Incentivo a programas e ações que viabilizem a conservação, a preservação e a sustentabilidade do patrimônio cultural submetido a processo de musealização;

- Respeito ao patrimônio cultural das comunidades indígenas e afrodescendentes, de acordo com as suas especificidades e diversidades.

Ao estado da Bahia coube o desafio de desenvolver e implementar o Eixo 3 da PNM: Programa de Formação e Capacitação em Museologia - Projeto Bahia. Assim, de 2003 a 2005, foi reunido um grupo formado por museólogos, estagiários do curso de museologia, representante da Prefeitura Municipal de Salvador e da Universidade Federal da Bahia, sob a coordenação da Profª Drª Maria Célia Teixeira Moura Santos, indicada pelo extinto Departamento de Museus e Centros Culturais (DEMU), hoje Ibram.

A partir dessas ações, novos paradigmas foram estabelecidos para a gestão dos museus baianos. Hoje, podemos dizer que trabalhamos com um conceito ampliado de cultura, definida como fenômeno social e humano de múltiplos sentidos, como manifestações que têm força simbólica e reconhecimento nas sociedades.

Em oito anos, o campo museal brasileiro fortaleceu-se de forma histórica e ganhou renovada importância cultural e social, consolidando uma legislação própria, inédita na história do país e uma das pioneiras na América Latina. Os museus brasileiros estão em movimento. Por isso, interessa-nos compreendê-los em suas potencialidades, seus enfrentamentos e dinâmica social, no âmbito de uma política pública de Estado. Os museus, como equipamentos da cultura, também são espelhos da nossa sociedade e devem ser explorados nessa dimensão.

Entretanto, nos últimos anos, a Diretoria de Museus (DIMUS) do IPAC optou por um modelo centralizador de gestão que enfraqueceu os museus a partir da desarticulação das equipes técnicas e eliminação dos diretores de unidades, habilitados a atuar nas especificidades de cada instituição. Os museus baianos deixaram de ser território de experimentações e práticas de fazeres e saberes - envolvendo os diversos públicos - para atender a interesses individualistas e de autopromoção, sobretudo, através das megalomaníacas curadorias que privilegiaram exposições temporárias de alto custo, em detrimento à salvaguarda dos nossos acervos.

Os acervos, por sua vez, se encontram em estado precário de armazenamento, dispostos em locais inapropriados, o que compromete a preservação, a conservação e a segurança do nosso patrimônio, descumprindo o artigo 23 do Estatuto de Museus. Ademais, não houve o cumprimento da Lei 11.904/2009, art. 44, que trata da construção de planos museológicos para as unidades museais, condição sine qua non para o desenvolvimento dos programas, quais sejam, de acervos (aquisição, documentação e conservação); arquitetônicos; expográficos; socioeducativos; de segurança; de comunicação e pesquisa; de recursos humanos e econômicos.

Outra questão grave, com conseqüências imensuráveis para a museologia e consequentemente os museus, tem sido o distanciamento estabelecido entre as instituições museais e os centros acadêmicos o que alijou os nossos museus do processo de ensino-aprendizagem e comprometeu a produção de conhecimento. Essa conjuntura adversa, acentuada nos últimos quatro anos, compromete os avanços das políticas públicas conquistadas através da PNM que, antes de tudo, é uma recomendação nacional. Vale ressaltar, que a PNM não foi compreendida nas suas especificidades, pela gestão responsável em questão. Em conseqüência, os museus não conseguem atuar com eficácia no que se propõem, enquanto espaços catalisadores da cidadania e da identidade cultural.

Com o objetivo de avançarmos nas políticas culturais de Estado, nós, profissionais, professores, pesquisadores e estudantes do campo da museologia e dos museus, objetivamos:

1º - Postular o compromisso da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia com uma política pública voltada à preservação e democratização de acesso à memória cultural.

2º - Que o gestor responsável pelos museus da Secult, escolhido por V.Sa., tenha uma postura coerente com os interesses do campo museal.

3º - Que haja incentivo às pesquisas no campo do patrimônio cultural, da memória e dos museus, através de seus pesquisadores, das universidades e dos grupos de pesquisas.

4º - Que a Política Nacional de Museus seja compreendida e implementada no Estado da Bahia.

5º - Investimentos nos programas de museologia social.

6º - Que os museus possam contar com diretores e equipes técnicas próprios, com autonomia de gestão e que haja subsídios para implementação do Plano Museológico.

Colocamo-nos à disposição para contribuir, de forma participativa, na construção de uma política cultural articulada com as demais políticas de Estado, com vistas à consolidação de uma cidadania cultural com valorização ao direito à memória, direito aos museus.

Cientes da Vossa compreensão desde já agradecemos e abaixo assinamos:

Ademir Ribeiro Junior - Arqueólogo do Iphan/MinC

Alessandra do Carmo Garcia – Coordenação Geral de Sistema de Informação Museais/Ibram/MinC

Amanda de Almeida Oliveira – COREM 1R 0291-I -Coordenação Geral de Sistema de Informação Museais/Ibram/MinC

Ana Paula Soares Pacheco – Coordenadora do Curso de Graduação em Museologia/UFRB

Carla Maria Costa da Silva – COREM 1R 0187-I – Memorial Irmã Dulce

Carlos Alberto Santos Costa – COREM 1R 0211-I – CAHL/UFRB

Diego Rabelo – RG.8760-8438 – Estudante de museologia e Diretor JPT- Bahia

Dilserôse Côrtes Costa - COREM 0301-I

Isabela Marques Leite de Souza COREM 3R 126-I - Museu das Missões/IBRAM/MinC

Luciana Palmeira da Silva – COREM 1R 0241- I - Departamento de Processos Museais/Ibram/MinC

Luiz Alberto Ribeiro Freire – COREM 1R 090 – EBA/Universidade Federal da Bahia

Luzia Gomes Ferreira – COREM 6R 040 – FAM/Universidade Federal do Pará.

Marijara Souza Queiroz - COREM 1R 0228- I – Departamento de Processos Museais/Ibram/MinC

Michel Correia - COREM 4R 166-I – Coordenação Geral de Sistema de Informação Museais/Ibram/MinC

Paulo José Nascimento Lima – Corem 4R – 157.I – Museu Lasar Segall/IBRAM/MinC

Rita de Cássia Vale – COREM 0202-I – Diretora ONG Moinhos Giros de Arte Cultura e Comunicação

Rosangela Karine Pinto Esteves COREM 1R 0277-I - Coordenação Geral de Sistema de Informação Museais/Ibram/MinC

Tais Valente dos Santos - COREM 1R 0294- I - Departamento de Processos Museais/Ibram/MinC

Valdemar de Assis Lima - COREM 1R 0242-I – Departamento de Processos Museais/Ibram/MinC

Paloma Bensabat Calvano – COREM 2R 0864-I - Coordenação Geral de Sistema de Informação Museais/Ibram/MinC

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