"Todo canditato a prefeito de Salvador deveria passar por um teste de históra do BRASIL" -
João Carlos Teixeira Gomes.
Cegueira de retrovisor
Postado por
Lucas Jerzy Portela em 8/19/11 • Na categoria
Flanar,
Ler,
O Retorno da Canção,
Viver
Ele quer um Pelô só para os brancos?
Outra falácia: elenca, entre os críticos da Reforma Cultural Bahiana, Paulo Miguez. Ora, muito ao contrário: Miguez foi dos que ajudou a colocar em marcha a Reforma e a desconstruir a oposição (falsa, repito) entre Axé-System e o Anti-Axé; vem dele as políticas Carnaval Pipoca e Carnaval Ouro Negro, do Governo do Estado, únicas até agora a enfrentar a plutocracia especulativa axezeira de que tanto Zulú Araújo se queixa. Dizer que a insistência de Paulo Miguez por um Museu do Carnaval é um reconhecimento de derrota é não ter entendido nada – se ele insiste nisso é como um próximo passo, um passo a mais, na desconstrução do Axé-System (que já vai tão longe que
mesmo blocos de carnaval de corda e abadá estão expontânea e autonomamente voltando a sair sem corda e sem abadá – outro fato que Zulú Araújo finge que não enxerga, ou não enxerga mesmo).
E diz que Caetano Veloso fez duras críticas a gestão de Marcio Meirelles. Primeiro,
Caetano fez uma crítica só – nécia e parva, como aqui já foi demonstrado. Segundo, Caetano já havia feito críticas similares a gestão de Gilberto Gil no Ministério da Cultura – da qual Zulú Araújo participou. É a crítica de quem confunde “cultura” com “cultura erudita” – bem no caminho que segue (segue?) o perdidaço Ministério de Ana de Holanda (aquela que não sabe o que é o IPHAN).
Na verdade, bem ao contrário,
a Bahia não vive um período cultural tão profícuo a décadas – em especial na música, justamente porque respiramos uma pluralidade em que o Axé-Music já não domina tiranicamente e que pode por isso ser renovado (por exemplo, pelo
Suinga e pelo
BaianaSystem). Quantos estados no país podem se dar ao luxo de ter uma
sinfônica corpo estável tocando semanalmente (a OSBA) e uma sinfônica jovem internacionalmente reconhecida e que lota 5mil pessoas num concerto de Natal na Concha Acústica (Neojibá), unidas pelo umbigo?! Quantos, além disso, podem ter ainda uma das mais importantes orquestras da história do jazz mundial, a Rumpilezz, figadalmente bahiana (de um modo que, antes, só Caimmy o foi), e dela brotarem outras experiências similares como a Sambone Pagode Orquestra e a Orquestra Afro-Sinfônica?!
Como diria
Paula Berbert: olhe no jornal – o não-axé é maioria esmagadora e já tem algum tempo. Não há capital no país que chegue sequer próxima de Salvador em programação cultural diária, salvo Rio de Janeiro e São Paulo. Recife? Nem pensar. Belém do Pará talvez se aproxime – mas tem um plano diretor urbano que data de 1992, rigorosamente cumprido. Enquanto aqui há uma prefeitura que, se pudesse, explodia a Montanha – e que, como Zulú, não se da conta da força de renovação cultural democrática que o estado e mesmo a capital estão passando.
Friso a questão urbana porque, já dissemos antes, não há Reforma Cultural sem Reforma Urbana. E aí entra outro sofisma do texto de Zulú Araújo: ele confunde Bahia com Salvador – isto é: trata a capital como um Principado, e se esquece que a Bahia é muito maior do que isso. Esquece-se do Feira Noise, do Mercado Cultural Mundial em Rio de Contas e Caetité, da Bienal de Artes Plásticas do Recôncavo em São Félix.
E aí, chegamos no ponto crucial: o suposto “carlismo” dos anti-MárcioMeirelles. Diz Zulú que os opositores da Reforma Cultural Bahiana não mamaram nas tetas do Axé-System (há controvérsias…), e que sempre votaram a esquerda. Ora, isso apenas quer dizer que não são conscientemente carlistas. Mas um discurso que fala de abandono do Pelourinho justo quando o bairro volta a ser reocupado por moradores e órgãos públicos e ser tratado como parte da cidade, e não como shopping,
cheira a higienismo – aquele que Eduardo Paes, no Rio de Janeiro, tem enfrentado com gosto, mas que Kassab e Serra proliferaram em São Paulo até torná-la, esta sim, uma cidade chata e careta. E tratar Salvador como se, por sinedoque, fosse a Bahia inteira é um recurso explicitamente carlista.
Zulú é tão não-carlista quanto um masoquista não é sádico do ponto de vista da consciência – mas no inconsciente o é plenamente. Dito de outra forma: no afã de ser “de esquerda”, o carlismo retorna pela porta dos fundos de seu discurso, pela culatra. É um discurso do tipo: “não sou homofóbico, mas quero viado longe de mim”; “não sou carlista, mas quero o Pelourinho sem moradores de novo”; “sou contra o Axé-System, mas não vou reconhecer nenhuma política pública em direção a Reforma Cultural que desconstrua este sistema monocultor e latifundiário”.
Sobre o sucesso do modelo Pernambucano, mal-sabe ele que foi minha geração que o invejou imensamente e sabia que alí tinhamos um exemplo a seguir. Recife saiu na frente do resto do país em termos de Reforma Cultural, inclusive porque ameaçada pelo Axé-System punjante da Bahia de 20 anos atrás.
Era uma questão de reserva de mercado, e de soberania estadual pernambucana – longe de ser uma relação linear para-com a Bahia. Mas sabiamos que não poderiamos seguir rigorosamente aquele modelo, até porque a indústria do Axé nos legou uma positividade que lá não há: autonomia produtiva em toda a cadeia de música, com alta capacidade técnica. Era usar isso a nosso favor, e não mais contra. Inclusive porque, no momento em que a Bahia inicia sua tardia, mas célere, Reforma Cultural, em 2007, o modelo pernambucano começa a fazer água, por excesso de dependência do governo e pouco empenho do capital privado. Isso desde então dizemos Pedro Alexandre Sanchez (São Paulo), Idelber Avelar, (Minas Gerais e Luisiana), André Egg (Paraná), Bruno Nogueira (Recife), Luciano Matos e eu. Alguns dos críticos, modestia a parte, mais atuantes da nova geração. Ou somos todos um bando de imbecis?!
Porque a Reforma Cultural Bahiana não se tratava apenas de matar o Axé-System (já estava autofagicamente moribundo), mas de resgatá-lo democraticamente (impedindo a tirania de qualquer gênero ou área), de reaproximarmo-nos de Pernambuco sem subserviência colonial, e de superar o carlismo a tal ponto que se supere o antagonismo a ele. Mas passa também por matar uma geração intelectual velha e paralítica, que só sabe enxergar pelo retrovisor (quando não cai na cegueira mesmo), de que Zulú faz parte – mas que Gilberto Gil e Marcio Meirelles e Albino Rubim, seus coetâneos, não fazem. Mas que jovens até mais novos que eu fazem,
xiitas de camisas preta que são.
E aliás, onde estava Zulú nos duros anos em que resistimos ao Carlo-Axé-System, e começamos a custurar no “antes à noite confiada” a coisa dada a aurora (aurora que Zulú, velhaco, não consegue ver, talvez por algum tipo de catarata moral), aquela que não “
era (mais) só um lado do mundo / (não) era só esse que eu via“? Ah, sim, em Brasília. Entendi…
Terça, 16 de agosto de 2011, 09h35
Bahia, Carnaval e cinzas!
Antônio Reis/Especial para Terra
"A maior festa cultural do Brasil é o carnaval baiano", opina Zulu Araújo
Zulu AraújoDe Salvador (BA)
Do ano passado para cá, várias personalidades baianas têm se manifestado sobre a anemia cultural no Estado. Ora de maneira irônica, ora de maneira ríspida, mas todos preocupados com os rumos do desenvolvimento cultural baiano. Ainda na gestão do Secretário de Cultura Márcio Meirelles, seu amigo Caetano Veloso fez duras críticas à condução da política cultural baiana. No início deste ano, Edson Barbosa, um publicitário baiano, reconhecido nacionalmente (comanda a publicidade do Governo Pernambucano), escreveu um belo artigo queixando-se de tudo e de todos no tocante à cultura baiana e conclamando a tudo e todos a se mobilizarem em defesa da cultura baiana. O Professor Doutor Paulo Miguez, um intelectual dos mais respeitados na Bahia e no Brasil, coordenador da Pós Graduação em Comunicação da Universidade Federal da Bahia e estudioso do tema, também aderiu ao clima e fustigou as autoridades da área, reclamando e propondo a criação do Museu do Carnaval. E mais recentemente o escritor Antônio Rizério publicou um artigo que está dando o que falar, pois critica duramente o descompasso cultural da Bahia em relação a Pernambuco, intitulado "Apagão Cultural da Bahia", no qual ele elenca uma penca de fatos para demonstrar o quão atrasado está nosso Estado culturalmente.
Nos blogs, nos bares e nos mares desta Bahia insana, o cardápio mais conhecido no momento é o desapontamento. A insatisfação é quase geral, com exceção do circuito do Axé, claro. Até porque o que os move não é a cultura e sim o entretenimento aliado ao dinheiro fácil. Reclama-se de tudo; da mesmice do carnaval, da falta de recursos financeiros, do jabá exorbitante das emissoras de rádio, da inexistência de uma política cultural na cidade do Salvador, da falta de equipamentos culturais de qualidade, de uma política editorial etc, etc, etc. É bom que se diga, que a maioria desses críticos, (conhecidos ou anônimos) votaram no governo atual, votaram na Presidente Dilma e não têm a menor saudade do "carlismo". Pelo contrário, são membros convictos da esquerda baiana. Digo isto porque virou moda em determinados setores da Boa Terra acusar de "viúvas do carlismo" aqueles que tecem qualquer crítica, por menor ou pueril que seja a condução cultural na Bahia.
A situação é tão critica, que em Brasília, terra onde os baianos sempre foram muito bem recebidos, vi, na televisão, a veiculação de uma chamada para um festival de música local inusitada: "Aqui cabe tudo, menos Axé". Xenofobia? Pode ser! Mas, o fato concreto é que vários estados brasileiros têm adotado o mesmo comportamento, a exemplo de Pernambuco, que proibiu pura e simplesmente a presença deste segmento musical baiano no seu carnaval. É claro que não podemos buscar culpados para esta situação, pois em verdade ela é uma combinação de múltiplos fatores, que vai da lenta formulação de uma nova política pública de cultura para o Estado à voracidade inescrupulosa do setor de entretenimento, que enriquece vertiginosamente às custas do empobrecimento cultural baiano.
A maior festa cultural do Brasil, que é o carnaval baiano, é um exemplo neste sentido. De festa plural, diversa, contagiante e com plena participação do povão, está dominada por um único segmento empresarial (Blocos de Trios e Camarotes) com a complacência ou conivência dos órgãos governamentais, notadamente a Prefeitura da Cidade do Salvador. Isto não é ruim apenas para a Bahia, mas sim para o Brasil, pois mata-se no nascedouro uma das expressões mais ricas da diversidade cultural brasileira. Outro exemplo marcante é o estado deplorável em que se encontra o Pelourinho. Dá a impressão de que esqueceram que o Centro Histórico Baiano é Patrimônio Cultural da Humanidade, e não propriedade do carlismo.
Mas, esta grita geral não deixa de ser uma esperança, assim como a enorme capacidade de diálogo que o novo Secretário de Cultura do Estado possui. Embora, para ter sucesso nesta empreitada de recolocar a cultura baiana nos trilhos da vanguarda brasileira, o Secretário Albino Rubim necessite de muito mais do que a boa vontade dos artistas, de boas propostas ou de criatividade. Precisará, sim, unir e mobilizar os setores culturais baianos para que a cultura na Bahia tenha o tratamento que merece: mais recursos humanos, materiais e financeiros. A Proposta de Emenda Constitucional que tramita no Congresso Nacional para disponibilizar 2% do Orçamento Público para a Cultura deveria ter guarida na Bahia e o Governo baiano dar o exemplo para o resto do país. Afinal, a cultura na Bahia, além de gerar enorme riqueza para os cofres do Estado, é responsável pela marca de singularidade da nossa terra no cenário nacional.
Axé!
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