sábado, 27 de agosto de 2011

CRÍTICAS AO ATUAL CENÁRIO CULTURAL BAIANO

"Todo canditato a prefeito de Salvador deveria passar por um teste de históra do BRASIL" - João Carlos Teixeira Gomes.

Cegueira de retrovisor

Postado por Lucas Jerzy Portela em 8/19/11 • Na categoria Flanar,Ler,O Retorno da Canção,Viver
Ele quer um Pelô só para os brancos?
Impressionante o texto deslocado no tempo e no espaço que Zulú Araújo cometeu esta semana no Terra Magazine – fruto, só posso crer, de grave problema oftálmico e de total mau-caratismo intelectual.
Ia dizer inabilidade lógica mas, ao contrário, o texto é ardiloso, cheio de recursos sofismáticos: pinça argumentos que eram candentemente verdadeiros há tempos atrás, e lança de modo que o leitor incauto os crê válidos ainda hoje. Por exemplo, se refere a um “recente” texto de Antônio Riserio – o texto é na verdade de 2008, e refletia a realidade do fim do carlo-axezismo entre 2005 e 2007. Nada tem de atual, ao contrário do que Zulú faz crer.
Outra falácia: elenca, entre os críticos da Reforma Cultural Bahiana, Paulo Miguez. Ora, muito ao contrário: Miguez foi dos que ajudou a colocar em marcha a Reforma e a desconstruir a oposição (falsa, repito) entre Axé-System e o Anti-Axé; vem dele as políticas Carnaval Pipoca e Carnaval Ouro Negro, do Governo do Estado, únicas até agora a enfrentar a plutocracia especulativa axezeira de que tanto Zulú Araújo se queixa. Dizer que a insistência de Paulo Miguez por um Museu do Carnaval é um reconhecimento de derrota é não ter entendido nada – se ele insiste nisso é como um próximo passo, um passo a mais, na desconstrução do Axé-System (que já vai tão longe que mesmo blocos de carnaval de corda e abadá estão expontânea e autonomamente voltando a sair sem corda e sem abadá – outro fato que Zulú Araújo finge que não enxerga, ou não enxerga mesmo).
E diz que Caetano Veloso fez duras críticas a gestão de Marcio Meirelles. Primeiro, Caetano fez uma crítica só – nécia e parva, como aqui já foi demonstrado. Segundo, Caetano já havia feito críticas similares a gestão de Gilberto Gil no Ministério da Cultura – da qual Zulú Araújo participou. É a crítica de quem confunde “cultura” com “cultura erudita” – bem no caminho que segue (segue?) o perdidaço Ministério de Ana de Holanda (aquela que não sabe o que é o IPHAN).

Terça, 16 de agosto de 2011, 09h35

Bahia, Carnaval e cinzas!

Antônio Reis/Especial para Terra

"A maior festa cultural do Brasil é o carnaval baiano", opina Zulu Araújo
Zulu AraújoDe Salvador (BA)
Do ano passado para cá, várias personalidades baianas têm se manifestado sobre a anemia cultural no Estado. Ora de maneira irônica, ora de maneira ríspida, mas todos preocupados com os rumos do desenvolvimento cultural baiano. Ainda na gestão do Secretário de Cultura Márcio Meirelles, seu amigo Caetano Veloso fez duras críticas à condução da política cultural baiana. No início deste ano, Edson Barbosa, um publicitário baiano, reconhecido nacionalmente (comanda a publicidade do Governo Pernambucano), escreveu um belo artigo queixando-se de tudo e de todos no tocante à cultura baiana e conclamando a tudo e todos a se mobilizarem em defesa da cultura baiana. O Professor Doutor Paulo Miguez, um intelectual dos mais respeitados na Bahia e no Brasil, coordenador da Pós Graduação em Comunicação da Universidade Federal da Bahia e estudioso do tema, também aderiu ao clima e fustigou as autoridades da área, reclamando e propondo a criação do Museu do Carnaval. E mais recentemente o escritor Antônio Rizério publicou um artigo que está dando o que falar, pois critica duramente o descompasso cultural da Bahia em relação a Pernambuco, intitulado "Apagão Cultural da Bahia", no qual ele elenca uma penca de fatos para demonstrar o quão atrasado está nosso Estado culturalmente.
Nos blogs, nos bares e nos mares desta Bahia insana, o cardápio mais conhecido no momento é o desapontamento. A insatisfação é quase geral, com exceção do circuito do Axé, claro. Até porque o que os move não é a cultura e sim o entretenimento aliado ao dinheiro fácil. Reclama-se de tudo; da mesmice do carnaval, da falta de recursos financeiros, do jabá exorbitante das emissoras de rádio, da inexistência de uma política cultural na cidade do Salvador, da falta de equipamentos culturais de qualidade, de uma política editorial etc, etc, etc. É bom que se diga, que a maioria desses críticos, (conhecidos ou anônimos) votaram no governo atual, votaram na Presidente Dilma e não têm a menor saudade do "carlismo". Pelo contrário, são membros convictos da esquerda baiana. Digo isto porque virou moda em determinados setores da Boa Terra acusar de "viúvas do carlismo" aqueles que tecem qualquer crítica, por menor ou pueril que seja a condução cultural na Bahia.
A situação é tão critica, que em Brasília, terra onde os baianos sempre foram muito bem recebidos, vi, na televisão, a veiculação de uma chamada para um festival de música local inusitada: "Aqui cabe tudo, menos Axé". Xenofobia? Pode ser! Mas, o fato concreto é que vários estados brasileiros têm adotado o mesmo comportamento, a exemplo de Pernambuco, que proibiu pura e simplesmente a presença deste segmento musical baiano no seu carnaval. É claro que não podemos buscar culpados para esta situação, pois em verdade ela é uma combinação de múltiplos fatores, que vai da lenta formulação de uma nova política pública de cultura para o Estado à voracidade inescrupulosa do setor de entretenimento, que enriquece vertiginosamente às custas do empobrecimento cultural baiano.
A maior festa cultural do Brasil, que é o carnaval baiano, é um exemplo neste sentido. De festa plural, diversa, contagiante e com plena participação do povão, está dominada por um único segmento empresarial (Blocos de Trios e Camarotes) com a complacência ou conivência dos órgãos governamentais, notadamente a Prefeitura da Cidade do Salvador. Isto não é ruim apenas para a Bahia, mas sim para o Brasil, pois mata-se no nascedouro uma das expressões mais ricas da diversidade cultural brasileira. Outro exemplo marcante é o estado deplorável em que se encontra o Pelourinho. Dá a impressão de que esqueceram que o Centro Histórico Baiano é Patrimônio Cultural da Humanidade, e não propriedade do carlismo.
Mas, esta grita geral não deixa de ser uma esperança, assim como a enorme capacidade de diálogo que o novo Secretário de Cultura do Estado possui. Embora, para ter sucesso nesta empreitada de recolocar a cultura baiana nos trilhos da vanguarda brasileira, o Secretário Albino Rubim necessite de muito mais do que a boa vontade dos artistas, de boas propostas ou de criatividade. Precisará, sim, unir e mobilizar os setores culturais baianos para que a cultura na Bahia tenha o tratamento que merece: mais recursos humanos, materiais e financeiros. A Proposta de Emenda Constitucional que tramita no Congresso Nacional para disponibilizar 2% do Orçamento Público para a Cultura deveria ter guarida na Bahia e o Governo baiano dar o exemplo para o resto do país. Afinal, a cultura na Bahia, além de gerar enorme riqueza para os cofres do Estado, é responsável pela marca de singularidade da nossa terra no cenário nacional.
Axé!

Toca a zabumba que a terra é nossa!
Zulu Araújo é arquiteto, produtor cultural e militante do movimento negro brasileiro. Foi Diretor e Presidente da Fundação Cultural Palmares (2003/2011).
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5298721-EI17691,00-Bahia+Carnaval+e+cinzas.html

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