segunda-feira, 17 de maio de 2010

Delicioso relato do cineasta baiano Edgard Navarro onde descreve o que ele chama de origem do cinema "Peba" (Pernambuco/Bahia).



Em 12/05/2010, às 09:47, Edgard Navarro escreveu:

Senão vejamos:
Estávamos voltando de uma sessão da jornada de Guido Araújo e nos reunimos na casa de Pola, no Nordeste de Amaralina, com alguns cineastas pernambucanos – entre os quais Marcelo Gomes e Lírio Ferreira - para uma sessão despretensiosa de nossos filmes: THAT’S LERO LERO, OROPA LUANDA BAHIA, A LENDA DO PAI INÁCIO e SUPEROUTRO. Projetamos num lençol que balançava ao sabor da brisa. Confraternizamos e foi uma noite encantada, em que nos reconhecíamos. Talvez naquela reunião tenha sido cunhado por algum mais espirituoso de nós, o termo cinema peba – talvez tenha sido até eu próprio, não estou certo. Eu tinha fumado e vcs sabem como é, né? (há controvérsias? Outras versões? Esta é a que conheço e testemunhei. Perguntem a Lírio) O certo é que convivíamos harmoniosamente; o inimigo comum era outro. Nós tínhamos sonhos parecidos de quixotes esfaimados, desfamados, meninos brincalhões que éramos. Fernando, Araripe, acho que Cláudio Assis também estava ali naquela noite mágica. Bem entendido, porque nós assim quisemos que fosse. Faça-se a luz, simples assim: as coisas são mágicas porque queremos que sejam. Há muito que a magia já é outra, porque assim é que o mundo gira, e tudo bem. Os meninos cresceram, caminhos diversos tomaram e ‘quando volta já é
outro...’ Encontro vez em quando com algum deles – Cláudio em Toulouse; Marcelo em Milão; Lírio em Tiradentes e Sampa. E os recém chegados Camilo (em Macapá e Niterói); Kleber em Portugal. Não entendo por que criar e fomentar uma cisma para que se estabeleça uma competição entre o cinema pe e o cinema ba. Deixamos de ser peba? Que bobagem! Amo todos eles, cada um a seu modo (ou a meu modo). Portanto, vamos parar de disseminar a discórdia entre os cineastas baianos e pernambucanos. Isso é pura estupidez! Admiro a pegada de todos eles, cada um na sua...
A propósito, Recentemente Lírio me disse num de seus adoráveis e às vezes desconcertantes arroubos etílicos que o cinema pernambucano nasceu naquela reunião do Nordeste de Amaralina... Foi além: vejam o que o maluco do Lírio (o mais porreta de todos eles!) disse numa entrevista pra a Folha. Com muito orgulho recebi o texto enviado via net pelo amigo Orlando Pinho e transcrevo na íntegra:

Filmoteca Básica
Superoutro
LÍRIO FERREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

“Oriundo da Bahia, surgia um petardo que balançou as estruturas da caretice yuppie da década de 80 e oxigenou toda uma geração de cineastas que estavam realizando os seus primeiros ensaios ao mesmo tempo em que conviviam com o fantasma da última noite de nitrato. O filme/bomba se chama "Superoutro" [de Edgard Navarro]. Nele, acompanhamos um vagabundo, boêmio e/ou louco [Bertrand Duarte] varando a madrugada de Salvador. Com "Superoutro" , renascia todo um cinema que ainda hoje acredita que, para contar uma boa história, não é preciso rastejar, basta voar...”
Que estas informaçõezinhas possam servir aos que estudam o processo evolutivo do cinema regional, etc. E é melhor que deixemos de picuinhas porque o que está em cima estará em baixo e vice versa e assim por diante.
Mais duas coisinhas:
Não devíamos estar visando ser mais espertos. Melhor seria que buscássemos a sabedoria, em lugar de esperteza: Os espertos têm o hoje, os sábios ganham o sempre. Quanto a botar o pau na mesa, será que vamos voltar a ser primatas e acabar nos medindo por centímetros? Pois a ladainha continua: o que está dentro estará fora, e macho vira fêmea per omnia secula seculorum...
Ah! Já ia misqueceno: quanto à maldição do homem que não dormia, "ninguém pode fugir a seu destino, que nem Édipo: conhecer-se a si mesmo foi a causa de sua desgraça." Está lá no EU ME LEMBRO. É claro que ninguém escolhe ser desgraçado ou não! Bem aventurados os que não são desaventurados. Redundante, não?

VALHA-NOS!
NA VALHA

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